quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Aids e a Terceira Idade





Desde o início da epidemia, nos anos 80, a Aids exige dos governos competência para levar a mensagem do sexo seguro ao grupo aparentemente mais vulnerável. Foi assim com gays, prostitutas, usuários de drogas injetáveis, jovens heterossexuais e, mais recentemente, com mulheres casadas. Agora a doença avança sobre uma parcela da população fisicamente fragilizada e de abordagem mais complexa: os idosos. O número de casos confirmados de Aids com idade acima de 50 anos cresce no Brasil como em nenhuma outra faixa etária. Entre os homens, a expansão foi de 98% na última década. Sobre a parcela feminina idosa, a epidemia avança como um rolo compressor: houve um crescimento de 567% entre 1991 e 2001. Enquanto isso, as campanhas de prevenção são estreladas por celebridades quase adolescentes.
A concepção arraigada na sociedade de que sexo é prerrogativa da juventude contribui para manter desassistida essa parcela da população. Costuma ser implacável o julgamento dos filhos diante do diagnóstico de Aids no idoso: 'Foi pegar isso nessa idade?'. Alguns profissionais de saúde também expressam uma surpresa desconcertante: 'Foi transfusão de sangue, né?'.
Um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde, em janeiro, sobre o comportamento sexual dos brasileiros mostrou que 67% da população entre 50 e 59 anos se diz sexualmente ativa. No grupo acima de 60 anos, o índice também é expressivo: 39%. A média de relações na parcela acima de 50 anos é de 6,3 ao mês. A responsabilidade por isso se deve, em parte, à difusão dos remédios para disfunção erétil. 'A longevidade sexual da população está aumentando e a prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis precisa ser intensificada', comenta Alexandre Grangeiro, coordenador do Programa Nacional de DST/Aids.
Do total de casos confirmados de Aids no Brasil, 6% eram verificados em pessoas acima de 50 anos em 1991. Dez anos depois (última data com dados completos disponíveis), o índice havia subido para 11%. Nos Estados Unidos, o cenário é o mesmo. Os casos de Aids na população acima de 50 anos quintuplicaram na última década. 'As autoridades tentam amenizar os fatos, mas o problema é concreto e alarmante', diz o médico Alberto de Macedo Soares, presidente da seção paulista da Sociedade Brasileira de Geriatria. 'É preciso desmistificar a idéia de que só jovem pega o HIV.'

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