terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cuidados dos idosos entregues a instituições

Pesquisa do Ipea mostra que responsabilidade sobre o idoso está sendo transferida das famílias para os abrigos




A morte do irmão mais próximo levou Maria Fortunato da Conceição, a “Chica”, de 85 anos, a viver em uma instituição de longa permanência para idosos. Há três anos, ela deixou a roça onde foi criada, em Macaúbas, distrito de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para morar no Instituto de Geriatria Afonso Pena (Igap), mantido pela Santa Casa na Região Leste da Capital. “Tenho sete sobrinhos, todos homens, e nenhum podia cuidar de mim”.

Como Maria, parte da terceira idade está recorrendo cada vez mais a esses lares, segundo o estudo “As instituições de longa permanência para idosos no Brasil”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As autoras do trabalho, Ana Amélia Caramano e Solange Kanso, afirmam que a demanda por serviços do tipo tende a crescer.

O aumento se deve ao envelhecimento da população e a mudanças na família brasileira. As principais transformações estão na menor taxa de fecundidade e na entrada das mulheres no mercado de trabalho. “Especialmente porque elas sempre foram as responsáveis por cuidar dos idosos”, argumenta Simone.

Com isso, a tarefa de assumir os mais velhos está sendo transferida, aos poucos, da família para instituições públicas ou privadas. Em Minas, elas são 693, sendo que apenas dez não participaram da pesquisa do Ipea, feita entre 2007 e 2009. As entidades estão distribuídas em 476 municípios – mais da metade das cidades do Estado.

A maioria das instituições é particular (96,3%), sendo que 85,9% são filantrópicas e 10,4% têm fins lucrativos. Apenas 3,2% são públicas. Simone explica que é uma tendência nacional o aumento dos abrigos privados. “Com o envelhecimento da população, o ‘mercado’ está valendo a pena”.

Em Minas, 20.678 idosos vivem em instituições de longa permanência. Quase 17% têm menos de 60 anos, já que as instituições, por vezes, acolhem pessoas abandonadas e de baixa renda.

No Igap, estão 26 mulheres e 17 homens entre 60 e 94 anos. A lista de espera tem mais de 200 nomes. “Os idosos estão ficando sem lugar. Muitas famílias não têm estrutura para cuidar deles”, justifica a coordenadora do instituto, Alessandra Borges.
Depois de morar oito anos com a irmã mais velha, a aposentada Maria da Conceição Carvalho, de 71 anos, decidiu ir para o Igap. “Ela era casada e estava complicada a convivência no apartamento”, explica. Uma vez por semana, ela recebe visitas de outra irmã, que a presenteia com quitutes. “Biscoitinho, doce de leite e pão de queijo, porque sou mineira, né?”, diz.

O aumento da oferta de vagas não é a solução, afirma o presidente do Conselho Estadual do Idoso, Felipe Willer. “Temos que priorizar o vínculo familiar”, afirma, recomendando que somente quem não tem parentes seja institucionalizado.

Willer sugere a criação de centros públicos para os mais velhos frequentarem durante o dia. A pesquisadora Simone concorda. “Não defendemos mais instituições. Mas, com o estudo, vimos a necessidade de propor novas opções para os idosos. A família não deve ser a única responsável”.


Maria da Conceição e Chica: exemplo de senhoras acolhidas pelo Igap

Fonte: Daniela Garcia - Do Hoje em Dia - 29/11/2011 - 10:05 

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